
Ao iniciar na prática de yoga nos enchemos de entusiasmo e vontade de aprender mais e mais. Ficamos dispostos a alterar nossa rotina e nos aprofundar na prática. Mas, com o tempo, surgem alguns obstáculos que nos fazem estancar, retroceder e até abandonar a prática.
Os desafios são muitos, podem surgir problemas pessoais, a chegada do frio, entre outros fatores. As vezes, são artimanhas da mente teimosa que persiste na auto-sabotagem. A prática de yoga é um espelho de nós mesmos, e nem sempre será prazeroso, fácil e agradável.
Esses obstáculos são abordados por Patanjali no Yoga Sutras, conheça-os:
Yoga Sutra 1.30 Vyadhi-styana-samshaya-pramada-alasya-avirati-bhrantidarshana-alabdhabhumikatvaanavasthitatvani-chittavikshepah-te-antarayah
1. Viadhy, a doença física ou mental – quando retomamos a prática após uma doença, devemos começar devagar, respeitando limites, dores e desconfortos. Nesse momento podemos observar nosso corpo, como um exercício de aceitação e aumento da própria consciência. Também é necessário observar as causas emocionais das doenças (que podem levar a uma racionalização excessiva do processo de liberação, fazendo com que se interrompa), para que os bloqueios sejam desfeitos.
2. Styana, a preguiça mental, procrastinação, dificuldade de persistir. Sabemos por experiência, que praticar yoga nos fará sentir bem, mas adiamos. É uma estratégia do ego para não ter que modificar os padrões aos quais está acostumado. Aí entre Tapas (disciplina), que nos faz sair da zona de conforto, elimina a preguiça física e mental. Uma boa estratégia para se propor, é fazer um pouco, seja apenas algumas Saudações ao Sol ou entoar o mantra, o mais provável é que após iniciar, mesmo que de forma lenta, o caminho será retomado.
3. Samshaya, a dúvida, que nos distrai de nosso objetivo. Mantém nossa mente querendo o que é imediato, agradável, ficando sem paciência para praticar yoga – quer distração, diversao, resultados rápidos. Quando isso não acontece, surge a ideia de que existe um problema. O corpo está encurtado, há dores, cansaço, rotina difícil, outro “compromisso”, todos esses obstáculos surgem. A verdade é que o ego coloca os problemas no exterior, nos tira de nossa busca principal e coloca obstáculos.
4. Pramada é a negligencia, a falta de cuidado. Se praticamos sem atenção, não evoluímos, não respiramos corretamente, não fluímos. Atenção e presença nas tarefas mais simples de nossa vida, lavar os pratos, cozinhar ou até mesmo perceber o que estamos comendo é uma pratica que deve ser cultivada. A preocupação excessiva com alinhamento dos asanas, por exemplo, enche nossa mente de questões, nos tira do momento presente e se torna uma distração, podendo assim gerar Himsa (violência) contra o próprio corpo, pela falta de respeito aos próprios limites.
5. Alasya, a preguiça. Como Pattabhi Jois dizia “o Ashtanga é para todos, menos para o preguiçoso”. Seja pelo conforto da cama, da vontade de ficar no sofá – somos tomados por Tamas (inércia), no qual alimentamos através do estilo de vida (alimentação, álcool, falta de movimento – tudo isso gera inércia em nosso corpo e mente). Vencer a preguiça exige muita disciplina e dedicação, e construimos isso na pratica.
6. Avirati, a gratificação sensorial ou falta de moderação. Este gera apego, que é uma pratica prejudicial, pois cria ciclos viciosos – a incessante busca por prazer. Seja na alimentação, na vida pessoal, social, a busca por prazer é confundida com a busca por felicidade.
7. Brantidarshan, a visão equivocada – no que diz respeito ao Yoga, a sensação de entendimento da pratica pode ser muito precoce, criando julgamentos, removendo nossa humildade e adicionando arrogância e inflexibilidade. O isolamento e ascensão do ego ao acharmos que estamos em uma supremacia espiritual, acima dos demais.
8. Alabdhabhumikatva, a incapacidade de avançar. Acontece com muitos no Ashtanga Yoga, você evolui rapidamente e logo vem um asana (postura) que nos limita e apresenta obstáculos e estancamos. Uma oportunidade de observação grandiosa, auto-conhecimento, paciência e humildade. Persistindo, mesmo que à paços lentos, nos reafirmamos em nosso caminho. O avanço, mesmo que não tão perceptível, acontece dia após dia, não só na prática, mas também em nossa vida.
9. Anavasthitatvam, a incapacidade de manter este progresso alcançado, a instabilidade. Senão matemos uma constância na prática e aparecemos só de vez em quando, estaremos continuidade interrompendo processos, reiniciando. É como uma escada, você está subindo, mas se voltar alguns degraus terá que subir novamente.
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